domingo, 12 de outubro de 2008

City Lights - City of Angels


Estava frio, gélido.
O sol ainda brilhava. Fim do dia.
Escureceu.
Noite.
A cidade não adormeceu.
Acenderam-se as luzes.
No entanto a cidade não deixou de ser sombria.
Chamavam-lhe , ironicamente, a Cidade dos Anjos.
Era nela que a Verónica vivia.
Viciada.
Aquela era a cidade da droga, da vida boémia levada ao extremo.
Não tinha pais, perdera-os com 10 anos.
Desde então, aprendera a viver sozinha.
O seu corpo tornara-se conhecido por entre aqueles que se deleitavam nele, a troco de dinheiro.
Era assim que Verónica vivia.
Talvez por falta de oportunidades, talvez por ser dinheiro fácil.
Hoje era mais uma noite, mas não uma noite normal.
Verónica não andava bem.
O vício consumia-a, a dependência crescia, o corpo não aguentava.
Desespero.
Queria acabar com tudo.
Hoje ia ter um cliente “especial”.
Rico.
Foi para o hotel a toque da dose nocturna.
Chegou ao quarto 801 e viu um espelho, redondo, em cima da mesa. Quatro linhas.
“Serve-te. Esta, hoje, é a tua casa.” – Disse ele.
Serviu-se de duas.
Ele, de outras duas.
Lucidez a desvanecer.
Verónica conhecia bem os seus limites.
Hoje queria ultrapassá-los.
Não queria chegar ao amanhã.
Bebida.
Fumo.
Pó.
Injecção.
Ânimos no auge.
Movimentos descontrolados.
Conversas sem nexo.
Ela queria mais.
Ele satisfazia a sua vontade.
O.D
Pânico.
Lucidez: injecção de adrenalina.
Frigorifico.
Tinha de lhe perfurar o esterno, acertar no coração.
Tremia. Transpirava.
Elevou o braço. Baixou-o.
Perfurou. Injectou.
Ela voltou a si, levantou-se …De repente.
Ainda com a seringa espetada no peito.
Sobressaltada. Ofegante. Quase histérica.
Pálida. Suada. Olheiras.
V- “Eu queria ficar por ali!!! Porque me salvaste?!?!”
?- “Não te ia deixar morrer nas minhas mãos!!!”
V- “Mata-me!”
?- “A morte não é solução!”
V- “Então vou ganhar coragem e suicido-me! Estragaste tudo!!!”
?- “Suicídio não é sinal de coragem! Corajosos são aqueles que enfrentam os problemas.
Choro.
V- “Tens razão…”
?- “Agora leva o dinheiro, compra comida, vai para casa e pensa em ti, na tua vida.”
V- “Obrigada!”
Á saída do hotel, Verónica morre atropelada por um carro cujo condutor guiava bêbedo.
A sua morte não foi notada.
A sua falta não foi sentida.
Na manhã seguinte já ninguém se lembrava.
Foi só mais uma perda abafada pelas luzes e ruídos da cidade.
Esquecida na Cidade dos Anjos.



Patrícia Moreira

1 comentário:

Shponja disse...

***** 5 estrelas =')