segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Look at the mirror...


Ela hoje sentia um misto de sentimentos. Pareceu-lhe que nunca havia experimentado algo semelhante.
Afinal, o que era aquilo?
Parecia ser a verdadeira junkee, que depende daquela dose para se sentir… uhm… para se sentir, somente.
Seria amor e felicidade o que estava a experimentar?! Se fosse ela sabia uma, e apenas uma, coisa… Não quereria que aquele sentimento desvanecesse… Naquele momento o racional não funcionou… O emocional alojou-se sem aviso.
No entanto, pouco tardou para que o racional começasse a dar sinais de vida… Latejava na mente sob a forma de uma tortura insuportável.
‘Quais serão os malefícios de tamanha felicidade?!’ – foi a pergunta que lhe passou de flash pela cabeça… Seria da moca?! – ‘Foda-se, maldito charuto… Já alucino! Será tudo assim?! Uma mistura de Céu com Inferno?! Unidos, únicos… Um só… Ying e yang?! Sempre juntos?! Terá sempre o Bem de ser equilibrado com o Mal?!’ – Ela estava toda charrada, mas sabia-se com razão, apesar de tudo.
Hoje sentia-se tão bem e tão mal! Hoje experimentava a felicidade-mor e a tristeza avassaladora! Hoje estava tão completa e tão vazia!
Não é justo que a felicidade implique sacrifícios…
Ela só queria que tudo fosse como nos contos de fadas…
Fantasiava tanto.
Era uma autêntica criança.
Mas hoje ela magoara alguém… E isso custou-lhe pela vida.
No entanto… Não negou a felicidade que sentia… E escolheu continuar a senti-la.
Quais as suas razões?!

***

– ‘Well, who needs reasons when you’ve got heroine?!’



Patrícia Moreira

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Soul Traveler



Uma janela.
Uma brisa.
Nuvens cinzentas.
Uma vista.
Uma imagem.
Um mundo só seu.
O seu mundo.
Uma seara. Um descampado.
Livre.
Liberdade.
Corria.
Um longo vestido preto.
Uma pele branca.
Um curto cabelo negro.
Uns olhos castanhos.
Um sorriso triste.
Ao sabor do vento, corria.
Descalça.
Sentia tudo na ponta dos dedos.
Sentia tudo de todas as maneiras.
Adorava a brisa bater-lhe na cara, a despentear-lhe o cabelo, a desajeitar-lhe o vestido.
Era uma bailarina solitária.
O palco, a sua vida.
A dança, o seu ar.
A liberdade, o seu rumo.
Corria.
Corria sempre.
Cansada, deitou-se.
E sonhou.
Sonhou tão alto…

Patrícia Moreira

'A Little Piece Of Heaven'


Há tantas coisas que gostava de te dizer.
Mas não sei como…
O pensamento flui.
O coração palpita.
A mente ordena.
Pressão.
Sufoco.
Desespero.
Não!
Não pode tardar mais.
Confusão.
Dúvida.
Incerteza.
Tenho a certeza, mas estou na dúvida…
Turbilhões de pensamentos ambíguos que me perseguem.
Medo.
Receio.
Decisão!!!
Está na hora!!!

Patrícia Moreira

All these things



Foi mais uma sucessão de acontecimentos que aconteceram porque, simplesmente, tinham de acontecer.
Inesperado.
Inconsciente.
Irracional.
Irresponsável.
Vá, deixa-te disso!
Esse mundo não é o teu.
Não! Não é!
Acorda!
Observa!
VÊ!
Muda de atitude…
Muda de vida…
Hum, abriste os olhos não foi?!
Já encaraste a realidade?!
Vá, larga esse teu mundo fantasioso.

Patrícia Moreira

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Twin Souls.



Palavras para quê?!

Amo-te por tudo,Maria Bettencourt! :D

Agora e para sempre,tu e eu!

domingo, 12 de outubro de 2008

City Lights - City of Angels


Estava frio, gélido.
O sol ainda brilhava. Fim do dia.
Escureceu.
Noite.
A cidade não adormeceu.
Acenderam-se as luzes.
No entanto a cidade não deixou de ser sombria.
Chamavam-lhe , ironicamente, a Cidade dos Anjos.
Era nela que a Verónica vivia.
Viciada.
Aquela era a cidade da droga, da vida boémia levada ao extremo.
Não tinha pais, perdera-os com 10 anos.
Desde então, aprendera a viver sozinha.
O seu corpo tornara-se conhecido por entre aqueles que se deleitavam nele, a troco de dinheiro.
Era assim que Verónica vivia.
Talvez por falta de oportunidades, talvez por ser dinheiro fácil.
Hoje era mais uma noite, mas não uma noite normal.
Verónica não andava bem.
O vício consumia-a, a dependência crescia, o corpo não aguentava.
Desespero.
Queria acabar com tudo.
Hoje ia ter um cliente “especial”.
Rico.
Foi para o hotel a toque da dose nocturna.
Chegou ao quarto 801 e viu um espelho, redondo, em cima da mesa. Quatro linhas.
“Serve-te. Esta, hoje, é a tua casa.” – Disse ele.
Serviu-se de duas.
Ele, de outras duas.
Lucidez a desvanecer.
Verónica conhecia bem os seus limites.
Hoje queria ultrapassá-los.
Não queria chegar ao amanhã.
Bebida.
Fumo.
Pó.
Injecção.
Ânimos no auge.
Movimentos descontrolados.
Conversas sem nexo.
Ela queria mais.
Ele satisfazia a sua vontade.
O.D
Pânico.
Lucidez: injecção de adrenalina.
Frigorifico.
Tinha de lhe perfurar o esterno, acertar no coração.
Tremia. Transpirava.
Elevou o braço. Baixou-o.
Perfurou. Injectou.
Ela voltou a si, levantou-se …De repente.
Ainda com a seringa espetada no peito.
Sobressaltada. Ofegante. Quase histérica.
Pálida. Suada. Olheiras.
V- “Eu queria ficar por ali!!! Porque me salvaste?!?!”
?- “Não te ia deixar morrer nas minhas mãos!!!”
V- “Mata-me!”
?- “A morte não é solução!”
V- “Então vou ganhar coragem e suicido-me! Estragaste tudo!!!”
?- “Suicídio não é sinal de coragem! Corajosos são aqueles que enfrentam os problemas.
Choro.
V- “Tens razão…”
?- “Agora leva o dinheiro, compra comida, vai para casa e pensa em ti, na tua vida.”
V- “Obrigada!”
Á saída do hotel, Verónica morre atropelada por um carro cujo condutor guiava bêbedo.
A sua morte não foi notada.
A sua falta não foi sentida.
Na manhã seguinte já ninguém se lembrava.
Foi só mais uma perda abafada pelas luzes e ruídos da cidade.
Esquecida na Cidade dos Anjos.



Patrícia Moreira

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Quite simple.


Se puderes olhar...vê.
Se puderes ver...observa.
Se puderes observar...repara.

Wonderwall


Estava sol, mas não muito calor.
A suave brisa amenizava a temperatura.
Tudo lhe passava ao lado.
O mundo era seu.
Era o seu mundo.
Impenetrável.
Maravilhoso.
Mágico.
Seu…
E era nesse seu mundo que ela se encontrava.
Que ela era feliz, realmente feliz.
Era nesse seu mundo que ela fantasiava.
Perdeu-se nele, pela primeira vez, nessa manhã.
Mas, desta vez, não viu o seu mundo.
Não podia ser.
Era negro, frio, infeliz.
Almas pairavam, almas penadas sedentas de redenção.
Sentiu um arrepio gelado possuir-lhe a espinha.
Desejava “acordar”.
Teve medo.
De repente, algo lhe despertou os sentidos…
Um calor. Uma luz.
Correu.
Viu uma mão. Um braço. Alguém.
Agarrou.
Foi puxada.
Calor.
Segurança.
Felicidade.
Era ele.
Eras tu…


Patrícia Moreira

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Alone


From childhood's hour I have not been
As others were; I have not seen
As others saw; I could not bring
My passions from a common spring.
From the same source I have not taken
My sorrow; I could not awaken
My heart to joy at the same tone;
And all I loved, I loved alone.
Then- in my childhood, in the dawn
Of a most stormy life- was drawn
From every depth of good and ill
The mystery which binds me still:
From the torrent, or the fountain,
From the red cliff of the mountain,
From the sun that round me rolled
In its autumn tint of gold,
From the lightning in the sky
As it passed me flying by,
From the thunder and the storm,
And the cloud that took the form
(When the rest of Heaven was blue)
Of a demon in my view.


Edgar Allan Poe - 1809-1849

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

"It's in our hands"


Obsessão – “Estado patológico caracterizado pelo facto de uma ideia, uma imagem, uma palavra (…) se impor de forma contínua ao espírito do sujeito independentemente da sua vontade”
- “A obsessão pode ser acompanhada por uma compulsão para realizar um acto.”


Fazia hoje 3 anos…3 anos que ele a conhecera.
Namoraram uns meses, tinham sido felizes.
Mas ela deixou-o.
Ele não suportou. Amava-a de mais para a perder.
Ele nunca tinha sido uma pessoa muito estável. Era ciumento e obcecado.
Penso que isso deriva da sua baixa auto-estima e da sua insegurança.
Ela fartou-se.
Tinham ambos 18 anos quando se conheceram, adolescentes.
Namoraram cerca de 6 meses…Ele prendeu-se a ela como a ninguém. Ela sentia-se, por vezes, sufocada.
No dia em que tudo acabou, o mundo dele desabou. Revoltou-se.
Era completamente obcecado, tornou-se doentio.
No seu quarto criou uma espécie de altar só com coisas dela, fotografias, peças de roupa, cartas…tudo…e todos os dias o idolatrava. Tinha velas, muitas velas a circundarem todos os pertences.
Não descansava enquanto no conseguisse eternizar a alma dela em conformidade com a sua.
Tinha de a ter.
Uma semana após o rompimento, ele tomou uma decisão, uma decisão trágica, doente, extremista…mortal.
A partir desse dia começou a estudá-la.
Sabia-lhe a vida toda, toda sem a mínima falha!
Foram dois anos e meio de perseguição.
Sim, era uma obsessão compulsiva. Não a podia evitar, nem queria.
Todos os dias ia ao altar e dizia:
“Se não te posso ter como quero, então ninguém mais te terá de forma alguma…!”
Durante esses dois anos e meio também estudou a forma como a iria eternizar.
Tornara-se sociopata, desprezava quaisquer normas sociais e era indiferente aos sentimentos dos outros (Transtorno de Personalidade Anti-social).
Desde pequeno que sofria de uma psicose maníaco-depressiva, que se tinha vindo a agravar ao longo dos anos.
Agora sentia que só atingiria a plenitude no dia em que consumasse o acto que tanto lhe infernizava o pensamento.
Então, optou pelos venenos.
Mas não sabia o que utilizar…
Ele era completamente fanático pelo matemático britânico Alan Turing…então lembrou-se de como ele se tinha suicidado…Suicidou-se comendo uma maçã com cianeto de potássio!
Estudou…descobriu que o cianeto causa intoxicação pois reage com a hemoglobina, impedindo o oxigénio de chegar aos tecidos, dai resulta uma morte rápida.
Perfeito.
Seria hoje…hoje no dia em que fazia 3 anos.
Ligou-lhe.
Foi amável e pediu-lhe que ela se encontrasse com ele.
Mentiu.
Disse que, finalmente, tinha seguido em frente e que queria apenas devolver tudo o que lhe pertencia, para que não ficasse preso a ela de maneira alguma.
Ela aceitou.
Combinaram encontrar-se nessa mesma tarde, em casa dele.
Assim que desligou o telefone, saiu de casa para comprar algo que sabia que ela não ia recusar: bolinhos de brigadeiro. Ela adorava.
Á hora combinada, ela apareceu…sempre fora muito pontual.
Ele abriu a porta, com um grande sorriso.
Ela entrou, um pouco nervosa.
Guiou-a até á sala e pediu-lhe que esperasse um pouco, que tinha uma pequena surpresa para ela…Ela sorriu e esperou.
Ele foi á cozinha buscar os brigadeiros (já tinha metido lá dentro a quantidade de cianeto que sabia ser suficiente para os matar) e levou-os á sala.
Ela adorou o gesto.
Mas ele não deixou que ela o comesse logo.
Quis falar com ela, quis relembrar os tempos que passaram juntos…queria morrer com o coração tranquilo e a visão de um sorriso na cara da sua amada…feliz por recordar os tempos passados.
Tiveram um momento de nostalgia.
Estava na hora.
Deu-lhe o brigadeiro. Ela comeu com satisfação.
Ele esperou.
Não demorou 20 segundos, somente o tempo de engolir.
Viu-a morrer, puxou-a para si e disse:
“Agora és minha, eternamente.”
Comeu o seu.
Morreu.



-Patrícia Moreira-

" Pior que a certeza de um “não” é a dúvida de um “quase”."





Hoje sinto-me assim.
Uma presença insignificante no mundo.
Tudo passa a correr á minha volta, eu não me mexo…
Oh, para quê?!

Realidades paralelas, paralelismos reais.
Não estou em mim. Mas sinto-te comigo. Com aquela sensação que estás sentado ao meu lado a ler tudo o que escrevo. Sem nunca fazeres qualquer expressão. Observas, sinto a tua respiração e o calor do teu corpo.
Não vou olhar para o lado, pois não quero que saias daí, quero sentir a tua presença, e se olhar tu desapareces!
Sinto o teu peso, o peso da tua cabeça a exercer uma força controlada, que não magoa, sobre o meu ombro.
Não…não posso olhar, nem tentar tocar-te, pois sei que desapareces!
A vontade é tão grande, mas sentir-te aqui, a olhar para o que faço, sempre sem dizer nada, é melhor que não te sentir de todo.
Eu sinto-te, mas não sei se me sentes. Eu quero-te, mas dizes, e bem, que não podes ter tudo. Não podes, pois não, ninguém pode!
Quero olhar de esguelha, pois o teu peso sobre o meu ombro é tão real que só podes estar aqui, ao meu lado…embora…embora nada…já nem sei nada…Não percebo como ainda escrevo, nada disto faz sentido, sem ti não!
Olhei! Não te vi…como já esperava…mas sei que ainda estás aqui, parece-me que fugiste para o outro lado…desta vez não vou olhar.
Sinto-te a rir, queres brincar comigo! Fico feliz por perceber que não me deixaste…e começo a chorar…Tu chamas-me, mas eu não posso ir…e choro, choro tanto. E agora estás á frente da minha cama, onde estou, a olhar para mim, sem saberes o que fazer…sugeres ir á rua, dizes que talvez eu precise de fumar…Nunca abres a boca, mas falas…
E agora?! Minha paixão, onde foste?! Olho de roda, para todo o lado, mas não te vejo!!! Não…por favor…não me abandones! Não te afastes!!! Uma vez disseste “Eu não me vou afastar de ti! Nunca! Adoro-te!”, eu acreditei, não me deixes agora!
Mas é tarde de mais, provavelmente tiveste de ir para casa, ou outro lado, sei que não foi por mal! Na minha mente vou guardar a imagem do teu sorriso! No meu coração fica a saudade! Adoro-te tanto.
Foi bom teres vindo aqui! Obrigada!

-Patrícia Moreira-

Where are you?! Set me free!



Quero afastar-me de tudo.
Quero ser guardiã de mim mesma.
Uma dançarina na escuridão.
Deixa-me ser intemporal.
Sopra-me da tua vida.
Não me esqueças, mas deixa-me ir.
Facilita a tua vida.
Não!!!
Não!!!
Não quero isso.
Estou louca.
Tento controlar-me.
A consciência e sanidade pregam-me partidas.
Não te quero deixar. Não quero que me deixes.
Só te quero perto. Não tenhas medo.
Não aguento tanta saudade.
Desiludo-me com a minha fraqueza.
Respiro-te. Inevitavelmente.
Sinto-te. Ilusoriamente.
Preciso de mim, mais que nunca.
Mas quero-te a ti.
Peço de mais de ti?
Talvez.
Tendenciosamente, ou estupidamente, prendo-me a quem menos precisa de alguém como eu. A quem merece mais.
Afastar-me?!
Sei o que não quero. Quero o que não sei.
Um minuto contigo.
Voltar a sentir o teu conforto. Pelo menos uma vez mais.
Voltar…
Voa para mim.
Sinto-me a cair, a perder-me.
Quero sentir-me segura.
Sem ti, não sei se consigo.


-Patrícia Moreira-

"Where are you?! Make up my mind!"


Onde estás?!
Procuro-te.
Onde andas?!
Ainda te procuro.
Não sei quem sou.
Perdi-me no tempo.
Perdi-me na vida.
Perdi-me na memória.
Quem sou?!
Onde estás?!
Sinto que és tu quem tem a minha identidade!
Levaste-a na brincadeira, não foi?!
Ahhh…estás a fugir de mim.
E sorris, dás gargalhadas.
Brincas.
Mas…só te vejo de costas.
Sinto – sei – que, se te olhar nos olhos…esvais-te, desapareces!
Oh…outra vez?!
Esta é diferente da outra.
Não me vejo no mesmo sítio.
Não…não é um quarto, não é!!!
È um bosque.
Estás deitado sobre as minhas pernas…sim. Sinto!
Só queria esticar a mão para te afagar o cabelo.
Não posso!
Choro…desesperada.
Viraste-te de frente para mim.
“Não olhes!” – disseste – “Sente!” – mas nunca abriste a boca.
Obedeci.
Senti-te envolveres-me.
Um beijo no pescoço.
As mãos á minha volta.
Conforto, segurança.
“Nunca me deixes.” – Pedi.
Acordei.

-Patrícia Moreira-

"The Invisible"



Vejo-te a andar.
Pareces perdido.
Onde vais?! Responde-me! Onde vais?!
Ia tocar-te, mas a minha mão passou através do teu peito.
Não me vês, não me sentes, não me ouves.
Mas eu estou aí.
Estás numa espécie de floresta. Húmida, fria, arrepiante.
O lusco-fusco baralha-te os sentidos.
Sabes para onde queres ir, mas não sabes como.
Sim, estás perdido.
Não entras em pânico, nem tens medo.
Mas parece que tens de chegar a algum lado depressa e, como não sabes o caminho, desesperas.
Ficas louco.
Agora vejo-te de cócoras, ao pé de uma árvore.
Estás agarrado ao teu cabelo…e puxas, num acto exasperado, como se isso te fosse indicar o caminho.
Gritas, gritas de ódio e raiva.
Não estás em ti.
De repente páras, estás pálido.
Pões-te em pé e olhas na minha direcção.
Fiquei sobressaltada, pensei que já me conseguias ver.
Depressa percebi que não.
Começaste a correr e passaste através de mim.
Olhei para trás.
Viste uma luz e foi para lá que correste.
A luz sumiu.
Paraste.
Olhas para a esquerda e um brilho vindo do chão despertou a tua atenção.
Era um fio de prata, com um pentagrama.
Agora parece que vejo laivos de pânico na tua expressão.
Apercebi-me que aquele era o meu fio, mas como?! Tenho-o comigo!
Também eu fiquei em pânico.
Começaste de novo a correr.
Segui-te.
Algo mais chamou a tua atenção, paraste novamente, ficaste imóvel.
Pálido.
Inicialmente não percebi porquê…mas vi-te a olhar para o chão e fiz o mesmo!
Um rasto de sangue!
Muito sangue, sangue fresco.
De quem quer que fosse, esse alguém ainda poderia estar vivo.
Seguiste o rasto.
Segui-te a ti.
Viste alguém estendido no chão, gemia de dor e quase não conseguia respirar.
Não conseguiste perceber quem era, a luz agora já era mais fraca.
Aproximaste-te, com medo do que poderias ver.
Era uma rapariga, viste-a de costas.
Estava semi-nua, deitada na posição de feto, roupas rasgadas, como viste depois.
Viste sangue.
Muito sangue. Parecia sair da sua barriga.
Contornaste-a para lhe ver a cara…
Era…eu!
Tinha sido esfaqueada, por alguém que o fez pelo simples prazer da chacina. Não precisava, já me tinha violado e deixado marcas que me assombrariam o resto da vida, mas fê-lo.
Agora sim, entraste em pânico. Completamente.
Sem saber o que fazer, agarraste-te a mim.
Balançavas-te para trás e para a frente.
Eu, de um lado lutava pela vida. Do outro, confusa, observava-te a agarrares-me.
Não percebia o que se passava, e tu…muito menos.
De repente abri os olhos, tentei falar.
Olhaste para mim.
Eu estava muito branca e fria pela perda de sangue.
Tinha poucas forças, mas tinha de falar.
“Não te esforces, vou tirar-te daqui” – Disseste tu.
Mas eu sabia que a hora estava a chegar.
“Obrigada por tudo…hum…nunca te esquecerei…” – Disse eu quase num sussurro.
Caiu-te uma lágrima.
Foi o meu último suspiro.
Sentiste o meu peso aumentar e percebeste o que aconteceu.
Apertaste-me, abraçaste-me, chamaste-me…Mas…o corpo morreu, e o “eu” que via de “fora”, era a minha alma que, com a morte física, se dissipou, passou para o outro lado.
Deu-se a morte completa.
Entraste em choque, fugiste…

-Patrícia Moreira-