segunda-feira, 8 de setembro de 2008

"The Invisible"



Vejo-te a andar.
Pareces perdido.
Onde vais?! Responde-me! Onde vais?!
Ia tocar-te, mas a minha mão passou através do teu peito.
Não me vês, não me sentes, não me ouves.
Mas eu estou aí.
Estás numa espécie de floresta. Húmida, fria, arrepiante.
O lusco-fusco baralha-te os sentidos.
Sabes para onde queres ir, mas não sabes como.
Sim, estás perdido.
Não entras em pânico, nem tens medo.
Mas parece que tens de chegar a algum lado depressa e, como não sabes o caminho, desesperas.
Ficas louco.
Agora vejo-te de cócoras, ao pé de uma árvore.
Estás agarrado ao teu cabelo…e puxas, num acto exasperado, como se isso te fosse indicar o caminho.
Gritas, gritas de ódio e raiva.
Não estás em ti.
De repente páras, estás pálido.
Pões-te em pé e olhas na minha direcção.
Fiquei sobressaltada, pensei que já me conseguias ver.
Depressa percebi que não.
Começaste a correr e passaste através de mim.
Olhei para trás.
Viste uma luz e foi para lá que correste.
A luz sumiu.
Paraste.
Olhas para a esquerda e um brilho vindo do chão despertou a tua atenção.
Era um fio de prata, com um pentagrama.
Agora parece que vejo laivos de pânico na tua expressão.
Apercebi-me que aquele era o meu fio, mas como?! Tenho-o comigo!
Também eu fiquei em pânico.
Começaste de novo a correr.
Segui-te.
Algo mais chamou a tua atenção, paraste novamente, ficaste imóvel.
Pálido.
Inicialmente não percebi porquê…mas vi-te a olhar para o chão e fiz o mesmo!
Um rasto de sangue!
Muito sangue, sangue fresco.
De quem quer que fosse, esse alguém ainda poderia estar vivo.
Seguiste o rasto.
Segui-te a ti.
Viste alguém estendido no chão, gemia de dor e quase não conseguia respirar.
Não conseguiste perceber quem era, a luz agora já era mais fraca.
Aproximaste-te, com medo do que poderias ver.
Era uma rapariga, viste-a de costas.
Estava semi-nua, deitada na posição de feto, roupas rasgadas, como viste depois.
Viste sangue.
Muito sangue. Parecia sair da sua barriga.
Contornaste-a para lhe ver a cara…
Era…eu!
Tinha sido esfaqueada, por alguém que o fez pelo simples prazer da chacina. Não precisava, já me tinha violado e deixado marcas que me assombrariam o resto da vida, mas fê-lo.
Agora sim, entraste em pânico. Completamente.
Sem saber o que fazer, agarraste-te a mim.
Balançavas-te para trás e para a frente.
Eu, de um lado lutava pela vida. Do outro, confusa, observava-te a agarrares-me.
Não percebia o que se passava, e tu…muito menos.
De repente abri os olhos, tentei falar.
Olhaste para mim.
Eu estava muito branca e fria pela perda de sangue.
Tinha poucas forças, mas tinha de falar.
“Não te esforces, vou tirar-te daqui” – Disseste tu.
Mas eu sabia que a hora estava a chegar.
“Obrigada por tudo…hum…nunca te esquecerei…” – Disse eu quase num sussurro.
Caiu-te uma lágrima.
Foi o meu último suspiro.
Sentiste o meu peso aumentar e percebeste o que aconteceu.
Apertaste-me, abraçaste-me, chamaste-me…Mas…o corpo morreu, e o “eu” que via de “fora”, era a minha alma que, com a morte física, se dissipou, passou para o outro lado.
Deu-se a morte completa.
Entraste em choque, fugiste…

-Patrícia Moreira-

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