segunda-feira, 8 de setembro de 2008

"It's in our hands"


Obsessão – “Estado patológico caracterizado pelo facto de uma ideia, uma imagem, uma palavra (…) se impor de forma contínua ao espírito do sujeito independentemente da sua vontade”
- “A obsessão pode ser acompanhada por uma compulsão para realizar um acto.”


Fazia hoje 3 anos…3 anos que ele a conhecera.
Namoraram uns meses, tinham sido felizes.
Mas ela deixou-o.
Ele não suportou. Amava-a de mais para a perder.
Ele nunca tinha sido uma pessoa muito estável. Era ciumento e obcecado.
Penso que isso deriva da sua baixa auto-estima e da sua insegurança.
Ela fartou-se.
Tinham ambos 18 anos quando se conheceram, adolescentes.
Namoraram cerca de 6 meses…Ele prendeu-se a ela como a ninguém. Ela sentia-se, por vezes, sufocada.
No dia em que tudo acabou, o mundo dele desabou. Revoltou-se.
Era completamente obcecado, tornou-se doentio.
No seu quarto criou uma espécie de altar só com coisas dela, fotografias, peças de roupa, cartas…tudo…e todos os dias o idolatrava. Tinha velas, muitas velas a circundarem todos os pertences.
Não descansava enquanto no conseguisse eternizar a alma dela em conformidade com a sua.
Tinha de a ter.
Uma semana após o rompimento, ele tomou uma decisão, uma decisão trágica, doente, extremista…mortal.
A partir desse dia começou a estudá-la.
Sabia-lhe a vida toda, toda sem a mínima falha!
Foram dois anos e meio de perseguição.
Sim, era uma obsessão compulsiva. Não a podia evitar, nem queria.
Todos os dias ia ao altar e dizia:
“Se não te posso ter como quero, então ninguém mais te terá de forma alguma…!”
Durante esses dois anos e meio também estudou a forma como a iria eternizar.
Tornara-se sociopata, desprezava quaisquer normas sociais e era indiferente aos sentimentos dos outros (Transtorno de Personalidade Anti-social).
Desde pequeno que sofria de uma psicose maníaco-depressiva, que se tinha vindo a agravar ao longo dos anos.
Agora sentia que só atingiria a plenitude no dia em que consumasse o acto que tanto lhe infernizava o pensamento.
Então, optou pelos venenos.
Mas não sabia o que utilizar…
Ele era completamente fanático pelo matemático britânico Alan Turing…então lembrou-se de como ele se tinha suicidado…Suicidou-se comendo uma maçã com cianeto de potássio!
Estudou…descobriu que o cianeto causa intoxicação pois reage com a hemoglobina, impedindo o oxigénio de chegar aos tecidos, dai resulta uma morte rápida.
Perfeito.
Seria hoje…hoje no dia em que fazia 3 anos.
Ligou-lhe.
Foi amável e pediu-lhe que ela se encontrasse com ele.
Mentiu.
Disse que, finalmente, tinha seguido em frente e que queria apenas devolver tudo o que lhe pertencia, para que não ficasse preso a ela de maneira alguma.
Ela aceitou.
Combinaram encontrar-se nessa mesma tarde, em casa dele.
Assim que desligou o telefone, saiu de casa para comprar algo que sabia que ela não ia recusar: bolinhos de brigadeiro. Ela adorava.
Á hora combinada, ela apareceu…sempre fora muito pontual.
Ele abriu a porta, com um grande sorriso.
Ela entrou, um pouco nervosa.
Guiou-a até á sala e pediu-lhe que esperasse um pouco, que tinha uma pequena surpresa para ela…Ela sorriu e esperou.
Ele foi á cozinha buscar os brigadeiros (já tinha metido lá dentro a quantidade de cianeto que sabia ser suficiente para os matar) e levou-os á sala.
Ela adorou o gesto.
Mas ele não deixou que ela o comesse logo.
Quis falar com ela, quis relembrar os tempos que passaram juntos…queria morrer com o coração tranquilo e a visão de um sorriso na cara da sua amada…feliz por recordar os tempos passados.
Tiveram um momento de nostalgia.
Estava na hora.
Deu-lhe o brigadeiro. Ela comeu com satisfação.
Ele esperou.
Não demorou 20 segundos, somente o tempo de engolir.
Viu-a morrer, puxou-a para si e disse:
“Agora és minha, eternamente.”
Comeu o seu.
Morreu.



-Patrícia Moreira-

2 comentários:

Margarida Borges disse...

E' tao lindooo *.*

euexisto disse...

ui..

inda não tinha lido este. deliciosamente dramático. tens jeito pa coisa